quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Xangai

Xangai & Quinteto da Paraíba
Brasileirança [2001]







Este CD é o resultado de uma trajetória que começou nos aboios do sertão da Bahia para florar na sofisticação da música de câmara. Somente um artista arraigado no melhor da nossa cultura pode se dar o luxo de combinar os salões de forró com as salas de concerto, misturando a estética mística de Elomar com o malabarismo verbal de Jacinto Silva, e as modernidades contrastantes de Chico César e Juraildes da Cruz. Xangai não esquece Gonzagão e Renato Teixeira, entre velhos sucessos e novas canções, e repete a parceria com o Quinteto da Paraíba, que, segundo Maciel Melo, “não é brincadeira…”
Janine Houard e Mario de Aratanha
Rio, setembro de 2001

Um cantor de voz agreste, com recursos intermináveis. Um quinteto de cordas apaixonado pela música popular, formado por virtuosos. Xangai e Quinteto da Paraíba. Intuição e academicismo. Sertão e universidade. Em torno deles percussão e rabeca, o supremo ritual da música que se faz decodificação do belo e importante. O fogo na consciência da mídia eletrônica. A música que desmascara os preconceituosos e lhes oferece arte contra teorias banais.

Este reencontro - a primeira vez que gravaram juntos tive a honra de ser o produtor, no disco Um Abraço pra ti, Pequenina - referenda a validade de culturas aparentemente distantes coabitarem no mesmo espaço. Se os bancos das faculdades celebram o perfeccionismo, as barrancas dos sertões oferecem os elementos indecifráveis do dom divino, da celebração da vida aos lamentos de dor.

Assim, convivem harmoniosamente Gonzagão e Camargo Guarnieri, Jackson do Pandeiro e Pe. José Maurício. Em lugar de trincheiras e fronteiras, bandeiras brancas e cruzamento. Tudo em nome da dignidade que já não se escuta no rádio e muito menos, se vê/ouve na televisão. As parabólicas apontam para uma total descaracterização da nossa cultura: é rock ou é axé, é italianismos ou pagode, é pop ou breganejo... e o forró ainda ganha revestimento de plástico, com proliferação de bandas ridículas entupindo nossos ouvidos.

Ouvir Xangai e o Quinteto da Paraíba é dizer não ao massacre da nossa cultura. Não a um sistema que segrega negros, pobres, índios, sem-terra, crianças órfãos e anciãos abandonados. Não ao açoite da insensibilidade. Não aos morros e favelas, estes navios negreiros da contemporaneidade. A música tem esse poder, a boa música tem esse poder. Nos deixa indignados com as injustiças e, indignação é o mínimo que um brasileiro de bem pode sentir diante do quadro político-social que se nos apresenta. Amém.
Ricardo Anísio - Crítico e produtor[fonte]

Ficha Musical
Quinteto da Paraíba
Yerko Tabilo - 1º violino
Ronedilk Dantas - 2º violino
Samuel Espinoza - viola
Nelson Videla - violoncelo
Xisto Medeiros - contrabaixo

Participações especiais de Chico César, Maciel Melo, Mariá, João Omar e Nailor Proveta

Faixas:
01 Meninos (Juraildes da Cruz)
02 O Sapo no Saco/De Quinze Para Trás/Coco Sincopado/Brasil x Portugal/Gírias Do Norte (Jararaca/ Ratinho/ Xangai/ Pinto Pelado/ Jacinto Silva/ Lucio Lins/ Xisto Medeiros/ Jacinto Silva/ Onildo Almeida)
03 Luz Dourada (Juraildes da Cruz)
04 Paraíba (Humberto Teixeira/ Luiz Gonzaga)
05 Utopia (Chico Cesar)
06 Curvas do Rio (Elomar)
07 Carne e Alma/Não é Brincadeira (Rogaciano Leite/ Maciel Melo)
08 Gago Grego (Jacinto Silva)
09 Cantada (Elomar)
10 Pequenina (Renato Teixeira)
11 El Carretero (José René Moreno K.)
12 Quem casou, casou !/Balanço da Sereia/Serra da Borborema (Elias José Alves/ Deo do Baião/ Agripino Aroeira)
13 Kukukaya (Jogo da Asa da Bruxa) (Kátia de França)
14 O ABC do Preguiçoso (Aí Deu Saudade) (Xangai)

Sem pesadelo: Ao Sonho!

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